Era uma vez um fazendeiro muito rico chamado Pedro que tinha dois orgulhos: seu boi Barroso – o maior, o mais forte, o mais bonito, o animal mais valioso da região. O outro era seu vaqueiro que não sabia mentir. Ele confiava tanto neste vaqueiro que o deixava tomando conta de seu boi Barroso. E assim falava a todos de seus dois orgulhos.
Um dia, o fazendeiro vizinho de nome Antônio, um sujeito muito malvado e invejoso foi visitar Pedro. Fez uma aposta de um saco cheio de dinheiro que o vaqueiro Sebastião iria contar uma grande mentira. Pedro aceitou a aposta.
Mas Antônio tinha uma idéia na cabeça. Chamou sua filha Marina que era uma flor de tão linda. Contou o seu plano. A moça não aceitou.O fazendeiro era mau e de tanto insistir e maltratar a filha , não houve jeito, Marina teve que participar do plano do pai.
Um dia Sebastião estava no pasto com o boi Barroso e apareceu Marina toda faceira, cheirosa com um vestido de flores do campo. O vaqueiro achou a moça muito bonita e os dois conversaram.
Passou o tempo. A moça apareceu de novo com um vestido branco, todo bordado com estrelas do céu. Os dois conversaram e se abraçaram.
Passou o tempo. A moça apareceu de novo, veio toda cheirosa usando um vestido bordado com conchas do mar. O vaqueiro achou Marina a moça mais linda do mundo. O vaqueiro apaixonou-se pela moça. Naquele dia os dois namoraram o dia inteiro.
Na despedida Marina pediu uma prova de amor: a morte do boi Barroso. Sebastião disse que ela pedisse tudo menos isto. Mas a moça só queria saber da morte do boi como prova de amor. O moço examinou a moça e balançou a cabeça. Depois, puxou a peixeira da cinta e matou o boi Barroso ali mesmo. A moça foi embora.
Marina chegou em casa chorando. Contou tudo ao pai. O malvado caiu na gargalhada.
No dia seguinte Antônio foi visitar Pedro pedindo o saco de dinheiro da aposta. Sem entender Pedro mandou chamar Sebastião. O moço veio de cabeça baixa e chapéu na mão. O fazendeiro malvado só ria e pensou que dessa vez o vaqueiro ia mentir. Mas Sebastião puxando uma viola cantou:
Eu estava no meu canto
Uma flor saiu do chão
Cresceu e fez um pedido
Que rasgou meu coração
Pediu que eu matasse o boi
Aquele fabuloso
Aquele bicho jeitoso
O famoso boi Barroso
Eu disse que não podia
E ela disse que queria
Eu disse que não devia
Ela fez que não me ouvia
E disse mais, meu senhor,
Veio pra perto e falou
Queria sentir firmeza
Certeza do meu amor
Eu amava de verdade,
Sentia amor pra valer
Mas se amor é invisível
O que eu posso fazer?
Pra provar que ele existia
Mostrar que tamanho tinha
Cometi uma maldade
Foi crime, foi culpa minha
Eu matei o boi Barroso
Aquele boi amoroso
Aquele bicho manhoso
Aquele boi precioso
Fiz loucura àquela hora
Por estar apaixonado
Se errei, eu pago agora
Mereço ser castigado.
O dono do boi ficou louco da vida. O vizinho ficou de queixo caído porque o vaqueiro não mentiu. Foi quando surgiu a moça. Veio toda cheirosa, usando vestido branco. Disse que estava arrependida. Chorou e contou a verdade. Disse que tinha feito tudo obrigada pelo pai. Ao ouvir isso, o vaqueiro ficou tristonho. Mas a moça continuou. Disse que estava apaixonada e queria casar-se com ele.
O fazendeiro malvado pagou a aposta e foi expulso da fazenda, prometendo deixar a sua filha casar com o vaqueiro. Pedro perdoou Sebastião por matar o boi Barroso e deu de presente de casamento o saco de dinheiro ganho na aposta.
(Adaptado do livro "Bazar do Folclore" - Ricardo Azevedo")